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A ASCENSÃO DO FUNK RAVE E A CULTURA DOS BAILES NO VALE DO PARAÍBA #OVALETEMVOZ

Atualizado: 13 de ago. de 2021


Texto de: Go


Dia 7 de julho é comemorado o dia estadual do funk no estado de São Paulo, a data foi designada em homenagem a morte de Daniel Pedreira Sena Pellegrine, nosso amado MC Daleste, assassinado durante um show que realizava na mesma data em 2003 na cidade de Campinas.


O estado de São Paulo é formador de diversos nomes importantes para o gênero, dos grandes nomes da Baixada Santista que ajudaram na popularização do funk no estado, como Duda do Marapé, Felipe Boladão e Neguinho do Kaxeta, até os precursores do funk ostentação que dominou o YouTube por volta de 2010/2011, como MC Guimê e MC Boy do Charmes, com seus luxuosos clipes lançados pela Kondzilla.



Assim como outros gêneros musicais brasileiros, o funk também tem suas ramificações em vertentes que englobam outras sonoridades, como por exemplo o BREGA FUNK. Nesse caso, a nova roupagem leva consigo características regionais, no entanto, essa premissa não se sustenta quando falamos do FUNK RAVE.


DJ GBR, a explosão do FUNK RAVE diretamente do Vale do Paraíba:


Um pouco mais para dentro do estado de São Paulo, mais especificamente em São José dos Campos no Vale do Paraíba, um dos nomes mais importantes do funk nacional da atualidade ia construindo sua carreira enquanto criava uma nova vertente que dominaria o Brasil nos anos seguintes. Em 2019, o DJ GBR, dentro do seu quarto na zona sul joseense, resolveu misturar a marcante bateria do funk paulistano com a força dos graves da música eletrônica e dessa mistura de sonoridades surgiu o FUNK RAVE.


À medida que seus lançamentos como “Rave da Putaria” e “Rave Automotiva” iam se popularizando pelo país, o DJ viu seu nome se tornar cada vez mais constante nos bailes pelo Brasil. Sua receita de sucesso virou base para outros produtores criarem sonoridades parecidas, o alcance foi tão grande que em 2020 a cantora Anitta junto do MC Lan e do grupo Major Lazer lançaram a faixa “Rave de Favela”, comprovando o fato de que sua criação tinha chegado ao ponto mais alto do mainstream nacional possível.


Em um vídeo de 2020 no seu próprio canal, GBR falou sobre suas inspirações para criar a ideia do funk rave:


“O Funk Rave surgiu depois de uma ideia que eu tive em uma festa que eu fui, aquela música ali pode ter um drop muito diferente, ao invés dela cair no eletrônico ela vai cair pro funk. Ae que eu fiz o 'Hay Hay' que é minha primeira música que todo mundo conhece e explodiu.”



Hoje, com carreira consolidada, mais de 5 milhões de ouvintes mensais no Spotify, colaborações com diversos nomes da cena musical brasileira e com sua primeira turnê internacional marcada para outubro deste ano, GBR inspira diversos nomes da sua região para enfrentar a dura batalha que é viver o sonho de estourar no funk.


Seguindo essa linha de raciocínio, essa matéria traz alguns nomes da região que vêm trabalhando arduamente dia após dia para seguir esse sonho:


MC Paiva, medley que ecoa pelos fluxos joseenses:


Definitivamente MC Paiva é o nome mais comentado dentro dos fluxos joseenses, seu trabalho começou a ganhar destaque em 2020 com o lançamento da faixa “Volante na Mão” junto do MC Tinho da Sul e com produção do DJ Chaves em colaboração com o DJ Vilão.


Seus medleys são como hinos para uma geração de jovens da região que se identifica com sua história e vivências cantadas em seus versos. Recentemente a faixa “Medley 2021”, produzida pelo DJ Vilão, bateu 1M de plays no YouTube.


Conversei com o MC Paiva para entender como ele vê essa idolatria de seus fãs perante seus medleys:


“Deve ser porque eu sou eu mesmo mano, naturalzão nas minhas ideias, sempre tento passar o que eu vivo ou o que eu já vi acontecer, minha presença também, nóis é moleque bom, por isso elas pegam bem.”



MC G, o funk consciente como ferramenta de reinserção social:


6 de abril para a grande maioria é uma data normal sem nada de especial, porém para MC G ela carrega um peso muito importante. A ocasião marca o dia em que G teve seu alvará liberado, quando sua liberdade voltou a “cantar”. Todo o contexto em torno desse dia o motivou a escrever a faixa que leva o nome da data, “6 de abril”.


O MC aposta no funk consciente para suas letras e usa o gênero musical como ferramenta para buscar uma vida nova e passar sua mensagem à frente. Conversando um pouco com o G, pedi a ele que comentasse sobre a história dessa faixa:



“Então irmão, 6 de Abril é uma inspiração baseado em fatos reais inspirado na minha vida, no sofrimento que eu aprendi muita coisa, além da rua que ensina muito a gente, a persistência da gente continuar e seguir em frente de cabeça erguida, porque Deus deu a vida pra gente e a gente merece uma oportunidade. Eu ressalto isso pra todo molecada que tá tirando uns dias ou tá na vida errada hoje, que ainda há tempo de correr atrás do sonhos e dar o melhor pra nossas vidas longe dessa caminhada, Deus é maravilhoso e hoje vivo coisas maravilhosas, muito grato pela força pra continuar de pé e pela inspiração pelo 6 de Abril.”



DJ Vilão, na contramão do microfone à busca por consolidar seu nome nas produções musicais:


Quando falamos sobre viver de funk, é relativamente normal associar isso a ser um MC, porém, por muitas vezes infelizmente esquecemos dos nomes que estão por trás de cada faixa. Toda essa fama atrelada ao sucesso dos MCs faz com que jovens que buscam no funk uma forma de mudar de vida escolham o microfone ao invés dos softwares de produção musical.


DJ Vilão é um desses casos inversos que escolheram a produção musical para consolidar seu nome dentro do funk, responsável por assinar a já citada “Medley 2021” de MC Paiva, “Bonde 171” do MC Mesquita e “Sou Valioso” do MC Elzinho, vem trabalhando diariamente na busca incessante do sucesso.


Troquei uma ideia com o Vilão e questionei o porquê da escolha da produção musical e quais as principais dificuldades que ele enfrenta por essa opção:


“Eu era DJ de festa, gostava de animar festa e sempre era música de outros DJs, foi aí que eu resolvi começar a fazer mandela em 2019, e em 2020 eu comecei a estudar campo harmônico, estrutura de beat e mixagem. Escolhi porque eu gosto de passar o sentimento na música mano, a principal dificuldade é o acesso, é caro os equipamentos, não é fácil de conseguir as coisas”


MC Buda, lutando para construir sua caminhada como artista independente:


A indústria do funk vem se profissionalizando cada vez mais, até porque o funk brilha o olho de muitos empresários quando os valores começam a aparecer. Porém essa realidade de ter uma estrutura para lançar seus trabalhos e acompanhamento artístico ainda é distante para muitos MCs pelo país afora, no Vale do Paraíba a história não é diferente.


MC Buda é apenas mais um exemplo dentro dessa caça pelo sonho de viver de funk, o MC que começou sua caminhada em 2015 e é responsável pelas faixas “Trator” e “De Meiotão” falou um pouco sobre as principais dificuldades de um artista independente dentro do funk lutando para estabelecer sua carreira:



Ah parça, a dificuldade maior é o dinheiro né, sem dinheiro já fica difícil de gravar uns clipes de responsa, umas música com uns DJ da hora. Mas de resto é suave, continuo escrevendo meus sons, tenho meus fãs graças a deus, minhas redes sociais sempre dão retorno, tô investindo no meu canal e vou vir com uns projeto da hora é só questão de organização e tempo, né? Porque agora tem que trampar pra fazer o dinheiro entrar e por aí vai”



Cultura dos Bailes na região


Por ser uma região próxima da grande capital, o Vale do Paraíba bebe muito das referências que São Paulo possui em todos os aspectos, do estilo de vida até a cultura musical, porém ainda assim algumas coisas se diferenciam pelo ar de interior que percorre pelo Vale do Paraíba.


Uma das principais diferenças quando falamos sobre o funk regional é como ele é consumido nos bailes, que, apesar de terem características bem próximas, possuem suas próprias peculiaridades. Para falar melhor sobre isso, convidei Giovanni Vicco, designer que tem experiência em bailes da capital e em sua própria região, do famoso baile da Dz7 até o fluxo da V4, ele contou um pouco sobre essas diferenças:


“Primeiro de tudo mano, lá em São Paulo os bailes têm as próprias leis, na Dz7 por exemplo é muita coisa acontecendo e não acaba, o coro come a noite toda, aqui o baile sempre acaba, polícia cola, joga bomba e o bagulho moia na hora mano, a estrutura das duas é muito diferente mano. Lá parece que é pronto para fazer o coro come, aqui não, aqui é só a rapazeada que gosta do som e acaba se juntando pra rua mesmo e faz o fluxo acontecer.”


Apesar de todas as dificuldades, a cultura do Funk no Vale do Paraíba segue viva e cada membro que a compõe, do MC até o mais simples frequentador de baile, só realça o fato de que #OVALETEMVOZ.


Gostaria de agradecer à Suspeito pelo espaço cedido, à assessoria da LoveFunkVale que fez a ponte para que eu conseguisse trocar ideias com o MC Paiva, MC G e o DJ Vilão, e por último e não menos importante ao MC Buda e o designer Giovanni Vicco pela disponibilidade de conversar comigo para o desenvolvimento da matéria. VIVA O FUNK DO VALE DO PARAÍBA!

 

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