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HERÓIS DELINQUENTES SEM FIGURA PATERNA

Atualizado: 15 de abr. de 2021


Texto de: Lukas Stoles


Entre fantasmas e demônios, o personagem periférico faz o melhor caminho que encontra da quebrada até seu objetivo. No percurso, pode tanto enfrentar a violência, por parte do crime, quanto a da lei por ser “tão facilmente confundido”, “tão parecido”, “tão igualmente errado”, “tão marginal quanto”.


A barreira do afeto é uma das mais marcantes na masculinidade periférica. São gerações de crianças que não conhecem o afeto vindo de homem adulto (Mais de 80 mil crianças foram registradas sem o nome do pai em 2020) e acabam associando a ausência emocional como um sinal de amadurecimento.


Diante dos números crescentes de aumento de famílias chefiadas por mães solo (número que chegou a 28,9 milhões de famílias em 2015), multiemprego, crianças registradas sem o nome de pai, ou mesmo casos de discriminação dentro de escolas por conta de estrutura familiar carente. Quantos filhos “só de mãe” ou “filhos de vó” não concordariam que para sobreviver em ambientes hostis (como a escola ou a rua) não foi mais fácil devolver com a mesma violência? Ou ao menos vestir uma armadura de hostilidade por proteção?


Yu Yu Hakusho é um shonen 90tista, cuja dublagem icônica o tornou um dos favoritos entre as massas. Um ponto importante de identificação popular com o anime são os anti-heróis ou “heróis delinquentes" que protagonizam a trama. São todos tidos como rejeitados, órfãos, bastardos, “casos perdidos” no geral.


Personagens que apesar das diferenças ou lado da disputa em que se encontram, são sempre capazes de se identificar ao reconhecer as mesmas vulnerabilidades um no outro e buscam inspirar força sem se abandonar.


Os caminhos trilhados em Yu Yu Hakusho são sempre feios e sombrios e esse clima é normalizado do começo ao fim assim como a ambiguidade moral dos personagens, é como se a narrativa explicasse quão tênue é a linha que separa as escolhas, consequências e as respectivas origens que definiram os “vilões e heróis” da história. Quão difícil é para esse herói marginal privado de orientação saber qual demônio se aliar e qual enfrentar?



Assim como os protagonistas, que foram marginalizados por sua própria existência, a criança periférica precisa sobreviver ao mundo carregando sempre o estigma, o peso e a responsabilidade de sua origem. Origem essa que traz para si o constante medo da violência (segundo o Instituto Plano de Menina, em um levantamento junto a adolescentes em regiões vulneráveis de dez estado, identificou-se um problema de conscientização em 84% das meninas entrevistadas que não soube explicar ou identificar o que pode ser considerado violência doméstica.), abuso de substâncias e a eterna ameaça de fracasso que sustenta a sociedade capitalista.


Apesar de todas as circunstâncias e contra todos os estímulos, a criança periférica precisa se reconhecer como potência e, nessa potência, o poder de transformar sua vida e o mundo ao redor, tornando-se assim protagonista e salvador de sua própria história.

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Sinopse:

Ao perder a vida salvando uma criança de um atropelamento, Yusuke Urameshi (um delinquente de 14 anos) tem a oportunidade de voltar à vida executando uma série de tarefas para avaliar seu verdadeiro caráter. Porém, antes ele precisa saber se existe alguém que realmente queira seu retorno.



Ficha dos personagens:


  • Yusuke Urameshi e Kazuma Kuwabara são estudantes de 14 anos conhecidos como os “piores marginais” da escola Sarayashiki.

Além de serem rejeitados pela maioria dos alunos, Kuwabara e Urameshi também sofrem discriminação por parte dos professores devido ao baixo rendimento escolar e comportamento violento, que é diretamente relacionado à falta de estrutura familiar dos dois.

Kazuma foi criado apenas pela irmã mais velha e Yusuke vive sozinho com sua mãe que sofre de alcoolismo. Ambos não têm pai.


  • Shuichi Minamino é um jovem estudante brilhante que divide o corpo com a alma da ladra youkai, a lendária Yōko Kurama.

Apesar de possuir a alma e as memórias de um youkai imortal, Kurama é capaz de identificar a humanidade em si ao reconhecer o amor da mulher viúva que o criou como mãe.


  • Hiei é um pequeno youkai nascido no país das mulheres de gelo no Makai. Apesar de jamais ter tido qualquer tipo de contato com qualquer familiar ou membro de sua tribo, Hiei ainda guarda consigo a pérola que sua mãe gerou ao tê-lo e as memórias de ter sido descartado para morrer por ser homem. Sendo assim, cruel por natureza.

O bebê sobreviveu, cresceu e ganhou seu lugar em um submundo de violência e crueldade, onde o derramamento de sangue foi tudo o que conheceu.


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