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A VOLTA DO RAP MALOQUEIRO

Atualizado: 26 de abr. de 2021

Texto escrito por Guto Magalhães (publicado originalmente no substack)


Um dos maiores mal-entendidos da história da música popular brasileira foi a divisão entre o rap e o funk. Os primeiros “funks” do Brasil (“Rap do Silva”, “Rap da Felicidade”) eram “raps” cheios de storytelling e letras reflexivas. Já os primeiros “raps” eram “melôs” (“Melô da Lagartixa”, “Mêlo do Bastião”), músicas mais simples, feitas pra dançar. Em outras palavras, eram “funks”. Bom, mas como disse o indefectível Chicó, de o 'Auto da Compadecida', “eu não sei como foi, só sei que foi assim”: cada gênero seguiu seu caminho e construiu sua própria estética. Porém, 30 anos depois, acompanhamos o surgimento de uma geração que vêm rompendo essas barreiras e fazendo um som cada vez mais híbrido, que não é funk, nem é rap, mas aponta uma terceira via pra música periférica.



Nesta história, o rap construiu um muro quase intransponível com o funk. “Música pra rebolar”, “rap é música consciente, funk é um lixo”, são falas clássicas dos guardinhas do rap. Isso reflete uma postura elitista e preconceituosa, predominante principalmente em São Paulo, a cidade que assumiu pra si o posto de “New York do rap nacional”. A recíproca nunca foi verdadeira, porque todo funkeiro foi criado tomando Racionais, Trilha Sonora do Gueto e Facção Central que nem Danoninho. E o trap, que colocou o rap de novo no mainstream no Brasil, tem influenciado uma geração de funkeiros a se arriscarem a fazer rap; e rappers se arriscarem a brincar com funk e incorporarem a estética real de quebrada – Oakley, Julliet, camisa de time, Whisky e Red Bull – no universo do rap. Febem, Vandal, Kyan, Fleezus, Mc Caverinha e seu irmão mais velho, KayBlack, representam esse movimento de resgate da vileragem verdadeira no rap nacional.


Já o impacto do trap no funk é tão grande que a GR6 lançou um canal exclusivo pro sub-genêro. Um exemplo recente é a homenagem dos wonder boys do funk paulistano, Mc Brinquedo e Pedrinho, ao clássico “Fábrica de Bico”, num trap produzido pelo DJ Oreia. Lembra, lá no longíquo 2015, que os fãs de rap ficaram horrorizados porque vossa majestade, Mano Brown, decidiu fazer um som com o Naldo? Pedro Paulo como sempre estava na vanguarda.

A magia dos samples


O sample é a alma do rap. Um sistema que se alimenta de referências de referências de referências, bem no estilo da linguagem cinematográfica. Um sample pode tanto valorizar gênios que caíram no ostracismo (um exemplo foi o “resgate” que a galera da Stones Throw Records fez da obra do mago Arthur Verocai) ou valorizar momentos muito específicos do mainstream. “Horse Play", do divertido Sada Baby está na segunda categoria, com um sample inusitado de “Numb”, do Linkin Park. Você já parou pra pensar que o Linkin Park, um grupo de nu-metal, já foi a maior banda do mundo? O Linkin Park foi tão grande, mas tão grande, que o maior rapper do mundo gravou um EP inteiro com eles.


Que o Chester Bennington esteja em um bom lugar.


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