Texto de: Marinah Nogueira
Arte de: André Rebello
O grande mestre Bezerra da Silva faria hoje, 23 de fevereiro, 94 anos, se vivo. Nascido em Recife e criado no Rio de Janeiro, foi conhecido e aclamado pelas quebradas. O músico e compositor nos deixou um legado de músicas feitas pela e para a favela.
No documentário, Onde a Coruja Dorme, Bezerra mostra sua vivência com a música e com os seus na criação e na produção de suas músicas mais populares. A sua ligação com a quebrada que vivia, foi um dos principais pontos para escrever e compor suas canções.
No longa-metragem, dirigido por Marcia Derraik e Simplicio Neto, percebe-se a cultura se apresentando em cada aspecto da vida dos compositores. Em suas músicas, Bezerra sempre deixou claro seu ponto de vista e opiniões sem se importar com a repercussão que poderia vir. O próprio afirmava diversas vezes quem são os inimigos da quebrada e das pessoas mais pobres, apontando sempre para políticos corruptos e para a elite.
“Não tem flagrante porque
A fumaça já subiu pra cuca
Deixando os tiras na maior sinuca
E a malandragem sem nada entender
Os federais queriam o bagulho
E sentou a mamona na rapaziada
Só porque o safado de antena ligada
Ligou 190 para aparecer”
Música: A Fumaça Já Subiu Pra Cuca
A música, composta por Tadeu do Cavaco e cantada pelo mestre, é um dos grandes exemplos de como Bezerra mostrava a força das gírias que existiam nas quebradas e que consequentemente apareciam nas músicas. O músico fala também no documentário sobre o seu ponto de vista em relação a esse tipo de linguagem:
“A gíria é uma cultura negra. A base veio dos escravos. Começou quando eles iam traçando plano de fuga, indo pro quilombo, aí eles falavam gírias que era pra eles (os capitães do mato) não entenderem. É justamente o que hoje os intelectuais fazem com a gente. Eles vão pra escola, aprendem (...), aí chegam e falam com você, chamam você do que quer e você não entende nada.”, fala Bezerra“Então o que é que a gente faz? A gente também pode conversar com o “doutor” do mesmo jeito e ele ficar o dia todo sentado e não entender nada. Aí é 0 a 0” completa.
Na música A Gíria É Cultura do Povo, Bezerra mostra mais uma vez a potência e a importância das gírias dentro dessas comunidades. Há quem diga que o compositor foi um dos pioneiros na cultura do hip hop no Brasil. No longa, Onde a Coruja Dorme, o rapper Marcelo D2 chega a fazer uma comparação com o Bezerra e o James Brown, mostrando a importância do que foi o Bezerra pro cenário do rap brasileiro.
Tido como Embaixador da Favela e respeitado em qualquer quebrada, Bezerra nos trouxe a verdade crua de quem soube viver. Ele conseguiu denunciar, com sua arte, situações numa época onde a violência nas periferias tinham um dos índices mais altos na história do país. Com o samba duro na queda, o nosso ilustre mestre nos mostrou que malandro não vacila, que na nossa sociedade falar a verdade é crime e que na favela só tem gente humilde marginalizada.
Bezerra da Silva foi precursor, visionário e mestre sambista. Hoje, no seu aniversário, a Suspeito Mídia reverencia o grande poeta e rememora com carinho alguns dos álbuns de sucesso do nosso Embaixador!
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