A EVOLUÇÃO DO UK DRILL
Em 2014, enquanto o Grime estava renascendo das cinzas, algo novo aconteceu no sul de Londres. Gangues britânicas adotaram a música e estética do Drill, que havia sido popularizado em meados de 2010 por nomes como Chief Keef e Fredo Santana. Texto de: João Redmann Arte de: Victor Aguiar Mesmo que ainda muito nichado, o Drill do Reino Unido ganhou sua própria cara, tanto na musicalidade quanto nas vestimentas. Uma nova leva de músicos e produtores talentosíssimos surgiram para enriquecer o estilo com referências das mais diversas: Grime, AfroBeat, Dancehall, R&B, Lo-Fi… até mesmo Funk Carioca! Os drillers , como são chamados, geralmente cantam sobre suas vivências de rua, com letras violentas, realistas e niilistas. Apesar de ter muitas semelhanças com o trap, os beats de trap tendem a ser mais lentos, entre 60 e 80 BPM. Já os beats de Drill são mais acelerados, variando entre 130 e 140 BPM, com um número grande de hi-hats e os 808 slides, que dão a impressão de um som “sujo”. Diversos produtores participaram da popularização do Drill, mas aqui vamos citar apenas dois deles: o primeiro é Carns Hill que, por produzir Rap e Grime desde os anos 2000, trouxe muitas noções desses gêneros ao Drill, isso fica perceptível no seu maior sucesso chamado “CHECK DIS”, lançado em 2017. Outro nome da cena é Ghosty que, tendo apenas 15 anos quando o Drill emergiu na Inglaterra, ficou conhecido por ter feito os beats de diversos sons que estouraram, como “No Diet” do Digga D. Em 2016, embora houvesse diversas fake news que associavam crimes com facas ao subgênero, o Drill ganhava cada vez mais sucesso no mainstream . Um bom exemplo é o cantor R6 que, na época com apenas 16 anos, se tornou referência na cena com "redruM Reverse" que, atualmente, conta com mais de 13 milhões de visualizações no YouTube. Mais recentemente, Pa Salieu chamou atenção com seus versos em “Year of the Real” ao lado de M1llionz, Meekz e Teeway. Pa Salieu confirmou ser um dos mais promissores da cena ao lançar “Frontline”, som com ritmos de Afroswing em conjunto com as batidas já conhecidas do Drill. Em 2020, lançou "Betty'' e “Bang Out”, ambas sendo produzidas pela dupla AOD e Felix Joseph, em que eles trouxeram elementos do Grime, como o ritmo mais lento e menos linear. Desde então, sons que misturam Drill com Grime estão cada vez chamando mais atenção. Não podemos esquecer a faixa “Home”, do Knucks, lançada em fevereiro de 2020 e produzida por ele mesmo, que contabiliza mais de 5,5 milhões de views no que é considerado por muitos o primeiro Chill Drill ou Lo-Fi Drill. Para nós do Brasil, é motivo de orgulho ver um artista como o angolano Blanco, que utiliza medleys de funk carioca em boa parte de suas obras, sem nunca esconder seu apreço pelo gênero. Apesar de usar batidas de funk, seus sons se aproximam muito mais do Chill Drill de Knucks do que do Drill mais pesado de Londres. Outro gênero a ser muito explorado é o R&B. Carns Hill e Bkay têm usado o ritmo para mostrar o potencial do Drill melódico, mas de maneiras distintas. Hill é mais experimental, usando as batidas agressivas do Drill ao lado de músicos de R&B, já o R&Drill de Bkay, é focado na utilização de vozes e pianos melódicos, adicionando uma boa dose de originalidade aos seus beats. Isso parece ser apenas o começo, adicionar melodia ao Drill pode ser mais experimentado; no Brasil, artistas como Antconstantino , Iza Sabino e Bin , já investiram nessa linha, enriquecendo a variação do gênero que chegou nestas terras através de Vandal e Attica! , pra citar alguns dos pioneiros. Uma vez que o Drill se separou das batidas do trap e da estética dark de Chicago, os produtores têm tido mais liberdade para misturar toda essa “sujeira” com melodias “limpas”, criando uma sobreposição interessante. Em 2020, o UK Drill teve um marketing inesperado. Drake lançou seu EP chamado Dark Lane Demo Tapes onde ele bebeu muito dessa estética, isso fica perceptível na faixa “Demons”, com participação do Fivio Foreign e Sosa Geek. Limite criativo? Isso parece não existir na cena do Drill britânico. Eles entenderam que arte não se limita e pode ser pensada de diversas formas diferentes. Essa árvore ainda é nova e tem muitos frutos para dar, nós não perdemos por esperar! Quer ouvir os sons citados nesse texto? Ouça a nossa playlist no Spotify .