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"O LÍDER EM MOVIMENTO": OBRIGADO, BK!

Atualizado: 26 de abr. de 2021

“O Líder em Movimento”: BK nos entrega um álbum focado e direto, com unidade temática e sem cair em repetições.


Depois de lançar dois clássicos modernos, BK sai com mais um álbum, deixando claro porque está no topo do jogo hoje. “O Líder em Movimento” é o terceiro álbum do rapper carioca BK, lançado hoje pelo selo Pirâmide Perdida. Com 10 faixas, o artista aproveita cada momento para passar sua mensagem, tratando de temas como a relação da negritude com o dinheiro, fidelidade e poder. É um álbum muito carregado politicamente, seja de forma explícita, como nas faixas “Movimento” ou “Pessoas”, ou por entre as linhas.


O álbum é aberto com a já mencionada “Movimento”. Uma das poucas faixas na qual BK “joga nomes”, o que por muito acaba sendo uma mania cansativa de diversos rappers, aqui é feito de forma consciente e ponderada: joga nomes dos maiores do rap, Biggie e Pac, e utiliza o nome do revolucionário marxista de Burkina Faso, Thomas Sankara. Cabe destaque também para a homenagem prestada à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro por motivos que já sabemos; é o que diz o rapper. São nomes utilizados de forma contextualizada e sem floreios. A produção grande, com o flow lento de BK, nos dá uma introdução pesada a um álbum que corre rapidamente.

A seguinte música, “Bloco 7”, trata da fidelidade de BK com os seus. Bloco 7 é o coletivo de artistas de qual BK faz parte, e cuja camisa ele veste, como deixa claro no seu som. Essa música é contrariada por “Amor”, música que trata de amizades e de paixões trazidas para perto de BK por interesse em seu sucesso, interesse na fama, interesse que faz com que o rapper se sinta desconfiado de qualquer um que se aproxime dele depois que chegou no topo. “Amor” não é uma “love song”, é um protesto contra compaixão falsa, um protesto contra as mariposas que circulam a luz de BK.


O topo pode ser visualizado por perspectivas diferentes. O topo como fama é puxado na faixa “Poder”. BK entra em uma espécie de “power trip” nesse som, reflete sobre onde chegou e se abandonou seus ideais. Conclui que não e que os temas tratados nesse álbum são evidência disso: as últimas linhas da música repetem títulos de faixas desse mesmo álbum, temas de que acusam BK de ter abandonado.


Outra perspectiva para o poder é o poder financeiro. Na faixa “Porcentos 2” o rapper traz a perspectiva de um homem negro que conquistou a independência financeira. A faixa alcance seu ápice na linha “dinheiro pra nós não é luxo, dinheiro pra nós é proteção”. BK não toma aqui a posição moralista de que o pobre tem que se manter pobre pra se manter real: BK toma a posição de um homem negro que vive no mundo real, inserido em um sistema capitalista no qual não há fuga do dinheiro.


A faixa “Pessoas” demonstra que o rap não mudou, não se tornou politizado de uma para a outra. O rap não se tornou conscientizado pelos acontecimentos políticos atuais: sempre foi expressão de resistência, válvula de escape para o povo preto. Com uma troca surpreendente na batida (um “beat switch”), uma faixa que pessoalmente me soou lenta toma destaque pela produção.


São poucas as linhas desperdiçadas por BK nesse álbum. Um destaque aqui é o fato de não ter nenhuma participação especial; é um álbum no qual BK se coloca no centro da narrativa, e não perde de vista sua mensagem. É um álbum focado, centrado, direto, sem grandes demonstrações técnicas, sem firulas, com unidade temática, sem ser repetitivo. O rapper carioca novamente demonstra, com “O Líder em Movimento”, por que é um dos maiores da nova geração do rap nacional. Fica claro o motivo de um dos trending topics de hoje ser "Obrigado, BK".

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