Pode-se afirmar que o Hip-Hop surgiu em Nova Iorque, nos Estados Unidos, mais especificamente no South Bronx, nos anos 70, com influências de ritmos como o blues e o jazz.
Texto de: Vinícius Silveira, originalmente publicado no Medium.
Em um contexto de crise após a Guerra do Vietnã, com o constante crescimento do desemprego, violência e consumo de drogas nos bairros mais pobres (atingindo principalmente negros e latinos), o Hip-Hop surge como uma válvula de escape para os jovens com menos oportunidades. Em sua gênese, o Hip-Hop tinha como pilares quatro elementos. Os dois primeiros se tratam do MC (mestre de cerimônia, sujeito que “fala” ou canta a poesia) e o DJ, que é quem comanda os toca discos ou pick ups e quem dá a base ao MC. O resultado desses dois elementos unidos é o rap, que significa rhythm and poetry (ritmo e poesia). A partir desses dois elementos, surge um terceiro, o chamado break, que é a dança. Em paralelo, o quarto elemento, o graffiti, surgiu como uma forma de expressão quando os jovens começaram a pichar seus nomes, apelidos ou símbolos das crews (grupos ou gangues) nos trens de Nova Iorque, assim como no resto da cidade em seguida.
O graffiti foi anexado a cultura Hip-Hop como um de seus principais meios de expressão, tendo como objetivo principal a divulgação dos ideais do movimento. Ainda fala-se de um quinto elemento, que une todos os outros quatro: o conhecimento. O conceito de quinto elemento foi criado por Afrika Bambaataa e “refere-se à mistura afro-diaspórica da consciência espiritual e política projetada para empoderar os membros de grupos oprimidos.” A fala de Travis Gosa, presente no livro 'The Fifth Element Of Hip Hop: Knowledge' reforça a ideia de Bambaataa do movimento hip hop como uma força para mudança social.
Apesar da moda não ser efetivamente um dos pilares do movimento, a vestimenta, ao longo do desenvolvimento da cultura, se tornou uma importante forma de expressão. Uma cultura se caracteriza por ter uma identidade própria, um estilo onde as pessoas inseridas se sentem identificadas. Assim, a representação do indivíduo através do modo de se vestir é característica essencial num processo de afirmação social e individualização. Antes dos adeptos do movimento terem um estilo próprio, as regras de vestimenta dos indivíduos envolvidos com a cultura Hip-Hop (principalmente negros), se baseavam nas impostas pela elite branca da época. As marcas mais populares eram claramente destinadas a um público de alto poder aquisitivo, como Gucci e Ralph Lauren.
Dessa forma, a criação de marcas voltadas a um estilo ligado ao Hip-Hop representa também a emancipação dos negros em sua forma de se vestir, assim, o mercado seria obrigado a voltar sua atenção a esse público. Essa emancipação chega em 1989, quando a primeira empresa especializada em Street Wear é criada por Karl Kani. Apesar disso, o primeiro contato da cultura Hip-Hop com a indústria da moda aconteceu em 1986, quando o grupo Run DMC assinou um contrato com a Adidas. Este contrato foi muito importante para que o Hip-Hop fosse além da periferia e se tornasse mainstream, visto que era a primeira vez que alguém fora da área esportiva fazia propaganda de um tênis. Também foi importante para Adidas, já que foi uma forma de finalmente definir seu público alvo. O tênis se transformou numa espécie de símbolo do grupo, que homenageou a marca na música “My Adidas”.
Com a popularização do Hip-Hop nas décadas seguintes, a fama adquirida por indivíduos através da cultura, como rappers, DJs, beatmakers, produtores, etc, proporcionou uma ascensão social e financeira inédita. Essa ascensão também influenciou na maneira como os rappers se vestiam, resultando na adição de novos signos.
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