Homens e mulheres da Costa do Marfim do norte, sul, centro e oeste, hoje demonstramos que todos os marfinenses podem coexistir e jogar juntos com um objetivo comum: se classificar para a Copa do Mundo.
Texto por: Bruno Menezes
Arte por: Victor Aguiar
No ano de 1969, a Guerra de Biafra parou para o povo nigeriano ver o Santos jogar.
A guerra separatista no antigo Estado do Biafra é conhecida como uma das maiores tragédias humanitárias do mundo. O número estimado de mortos está entre 500 mil e três milhões de pessoas. O país africano tornou-se independente do Reino Unido em 1960 e conflitos internos foram gerados pela supremacia e o acesso a recursos naturais, especialmente o petróleo.
A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), em conflito com a Confederação Sul-Americana, havia decidido que Santos e Internacional, campeão e vice do Brasil em 1968, não participariam da Copa Libertadores de 1969. Então, o Santos partiu para uma sequência de jogos na África que se revelaria histórica, passaram pelo Congo, Nigéria e Moçambique.
Mas isso é história pra depois, o nosso tema hoje é outro: Didier Drogba.
Acredito que a grandeza de Didier Drogba dentro das 4 linhas não é novidade pra ninguém, considerado para muitos o maior atacante da história do futebol africano.
Didi é referência na vida.
No ano de 2002 iniciou-se a Primeira Guerra Civil da Costa do Marfim, quando rebeldes saindo de Burkina Faso estavam tentando tomar o controle da capital, Abdjan. O país estava dividido em duas partes.
Mesmo com os conflitos acontecendo, no ano de 2005, a Seleção da Costa do Marfim teve sua melhor geração de todos os tempos e conseguiu algo histórico: a classificação para a Copa do Mundo de 2006, após vencer o jogo contra o Sudão por 3 a 1.
A população que passou 3 anos de tristeza e sofrimento, teve um motivo pra sorrir: o futebol.
Como comemoração, Drogba se posicionou de forma pacifista e dentro do vestiário fez um discurso televisionado para todo o mundo pedindo que o país se unisse neste momento, deixando as questões políticas de lado.
“Homens e mulheres da Costa do Marfim - Drogba estava rodeado por todos os seus companheiros - Do norte, sul, centro e oeste, hoje demonstramos que todos os marfinenses podem coexistir e jogar juntos com um objetivo comum: se classificar para a Copa do Mundo. Prometemos que as comemorações uniriam o povo, hoje suplicamos de joelhos... - e, nesse momento, os jogadores se ajoelharam - que perdoem uns aos outros. Perdoem. Perdoem. Um grande país como o nosso não pode se render ao caos. Deponham suas armas e organizem eleições livres" - finalizou o capitão.”
O pedido funcionou! Com o país todo assistindo naquele momento, o apoio popular para cessar fogo, cresceu bastante. Uma semana após o discurso, ele veio. Após anos de conflito e mais de 4000 pessoas mortas, a guerra foi adiada, poupando milhares de vidas.
O ano de 2006 foi espetacular para Didier, campeão da Premier League pelo Chelsea, o atacante foi eleito o melhor jogador africano da temporada. E como manda a tradição, ele queria levar o seu troféu para casa e o local escolhido foi Bouaké, na época, base central do exército rebelde. Foi abraçado por todos no aeroporto e fez uma promessa: “Quando eu voltar, trarei toda seleção comigo”, e ele cumpriu.
Em Maio de 2007, a cidade parou para assistir a Costa do Marfim golear Madagascar por 5 a 1, pela Copa das Nações Africanas.
"Ver os dois lados juntos, cantando em uníssono o hino do meu país, foi muito especial. Senti que a Costa do Marfim estava renascendo", declarou o gigante atacante. Não é de surpreender que, no dia seguinte, após a vitória da Costa do Marfim por 5 a 0, um jornal local tenha manchetado a notícia assim: "Cinco gols para apagar cinco anos de massacres em seu país."
Eram inimigos lado a lado, torcendo pelas mesmas cores.
Atualmente, além de ocupar o cargo de embaixador da saúde e esporte na OMS, ele tem a Fundação Didier Drogba, que tem o objetivo de ajudar no desenvolvimento de seu país.
Feitos como esses levaram o marfinense a ser incluído em 2010, pela revista Time, entre as 100 pessoas mais influentes do mundo. Também naquele ano, o clube onde se formou, Levallois SC, decidiu nomear seu novo estádio como "Stade Didier Drogba".
"Ser um homem é mais importante do que ser um campeão."
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